Filhos... ;)


Quando nasce um filho,
Nos pegamos cheios de medos:

De não sabermos cuidar, alimentar e consolar;
De não conseguirmos segurar a barra do cansaço, das noites insones, das olheiras que aumentam mais e mais;
De não sobrevivermos às mudanças, mesmo sabendo que agora temos de fazê-lo por alguém que precisa de nós;

Medo de adormecer com aquela coisinha pequena no braço e derrubá-la no chão;
Medo de nunca mais termos de volta a nossa vida, a própria vida, porque o tempo parece ter adquirido vontade própria;
Medo de um choro repentino assim que conseguimos, finalmente, fazê-lo dormir;

Medo de que não arrote, medo de que não nos queira bem, medo de que sinta uma dor qualquer que não se possa apaziguar;

Medo do inseto que fira, medo da água estar fria ou quente demais, medo que a roupinha irrite a pele tão fina...
Esses são os pequenos e primeiros medos, que somem com os dias e dias que virão...

Esses darão lugar a outros porque a vida agora assume contornos mais reais e essa criatura é tão pequena, tão indefesa...

Depende tanto da nossa lucidez, que, a trancos e barrancos, conseguimos manter...

Mas, depois que nasce um filho,
Um amor tão, mas tão grande transborda de dentro do peito
Que a noção do nosso limite se perde.

Não há palavra, afago, ou lágrima que consiga drenar essa loucura tão misteriosa,

Que é amar alguém assim, tão em profusão.

Aí todos os medos, os grandes e os pequenos, sucumbem
Porque esse amor tão insuspeito
Nos ensina que a medida pra amar alguém assim é deixar

Que essa mão pequenina leve o nosso coração pelos caminhos desconhecidos
Numa história sem fim

De um amor que desconhece o medo.