Velhos hábitos e pequenas obsessões


Não tive grandes amores, mas pequenas obsessões. E ao longo dessas muito mal sucedidas incursões sentimentais, eu acabei instaurando um certo padrão.
Antes de tudo, você precisa entender que o ponto de partida desse círculo é estar muito triste ou muito puta - ou ambos - porque alguém não me quis. Esse é o meu estado normal.Anormal é o oposto. Estar feliz com a minha vida afetiva é a exceção das exceções. E uma vez que você compreende o marco zero, fica mais fácil acompanhar minha patética jornada rumo ao mesmo lugar.Porque lá estou eu, triste ou puta - ou ambos -, completamente instatisfeita com a conjuntura do Universo, me achando a pessoa mais mal-afortunada que existe, quando surge alguém novo.Em um primeiro momento, minha reação é descartar a possibilidade, encontrando todos os defeitos possíveis, listando todas razões que tornam aquele sujeito uma péssima ideia. E entenda que essa atitude em nada tem a ver com o rapaz em questão. É que faz parte desse meu padrão ter sérias dificuldades em aceitar mudanças e sair da inércia. E ao encontrar problemas na pessoa nova, eu automaticamente enalteço aquela que não me quis, permanecendo assim no meu estado normal de tristeza ou emputecimento - ou ambos.Mas, tá. Digamos que o cara novo reuna em si um conjunto de atributos que me faça sair da inércia e me empurre para a etapa seguinte. Então nós saímos, conversamos, nos pegamos freneticamente e eu passo o tempo todo me perguntando o que caralhos estou fazendo ali.Só que o cara novo me surpreende de alguma forma e eu consigo avançar para o estágio seguinte, onde o outro já não ocupa mais tanto espaço no meu fluxo de pensamentos. Eu já não me preocupo em saber com quem ele está ou o que anda fazendo. Não é mais dele que eu me lembro, distraída, no meio da tarde. E é aí que começa a transição de uma obsessão para outra.
No início ela se dá bem devagar, como se a conexão estivesse lenta. E quando eu menos espero algo muda na rede e tudo acelera. Foda-se o cara que não me quis. Ele foi um idiota. Ocorre uma inversão de papéis e o sujeito enaltecido agora é o cara novo. Ele sim é foda. Completamente diferente, não tem nem comparação. Esse tem muito mais a ver comigo, penso.
O cara novo vira O cara. E tudo parece estar ótimo....
Até não estar mais.
Pouco a pouco, as coisas começam a desandar. E o cara novo, que tinha virado O cara, agora passa a ser o cara que faz tudo errado. Já não me surpreende de nenhuma forma - e quando o faz, é sempre de maneira negativa. Tipo, surpresa(!), tem um brinco na gaveta dele! E não é meu!
Nesse momento ocorre outra inversão, bem mais irônica que a anterior. Porque quem volta a ser enaltecido é o cara do começo, o que não me quis, o que tinha virado um idiota.
Nesse ponto do círculo vicioso, eu revejo toda a trajetória e percebo que aquele cara nem tinha sido tão idiota assim. Ele nunca faria comigo o que o cara novo está fazendo. Ele me entendia melhor. Completamente diferente, não tem nem comparação.
E aí eu volto a ficar triste ou puta - ou ambos. Mais uma pequena obsessão pro meu álbum de figurinhas repetidas. Mais uma voltinha frustrante pelo círculo, em tempo recorde.
Mas velhos hábitos não morrem fácil. E estando de volta ao marco zero, só me resta esperar. Mais alguns meses de pequenas obsessões e logo logo chega mais um cara novo.