FALAR DE MEIAS?...


Talvez haja, sim, o que falar sobre elas. Nada de um par de meias mágico que pudesse me transformar em princesa ou rainha. Nem o contrário, um maldito, que virasse minha vida de pés para o ar e eu não soubesse mais onde pisar.

Em primeiro lugar, penso nas meias simplesmente como agasalho dos pés. Mas elas têm outras funções. As sedosas e transparentes destacam a beleza das pernas, tornam suas portadoras sensuais. Aquelas pretas, trançadas como rede de pescador vão além, podem lembrar as dançarinas do Can-Can ou sugerir outras cositas também...

Quando criança, eu pouco usava meias - as soquetes - a não ser em dias de festa e no inverno. Eram de algodão e furavam, primeiro no dedão, depois no calcanhar. E lá em casa, com aquela criançada, tinha meia furada de montão. O que mamãe fazia? Punha um ovo de madeira dentro delas e cosia. Eu ouvia falar também de certas meias de homem, mais finas, feitas com fios de Escócia, o que para mim não queria dizer nada.

Aquilo que no tempo de minha mãe era meia-de-seda, virou meia-de-nailon, e toda menina quando virava mocinha queria usar. Eu também. Só que nem imaginava o inferno que seria. Alguém se lembra das ligas? Pois é. Aquela tira de elástico não parava de escorregar... Nem gosto de lembrar. O que inventei foi um meio de sair sem meia, riscando a perna na parte de trás. O lápis de sobrancelha, marron, imitava a costura que todas elas tinham, com a vantagem de não sair do lugar. Felizmente o suplício durou pouco, logo surgiu outro modo de as segurar, deu pro gasto, ainda que não fosse ideal. E, finalmente, pra salvar a mulherada, a meia-calça apareceu.

Meia-calça aqui pra nós, na França é colante, nome mais elegante. E lá, como não podia deixar de ser, havia enorme variedade. Tantas cores: vermelhas, cinzentas, marinho, que luxo! Principalmente aquela bege-clarinho, que eu via na rua pra todo lado, me deixou alucinada. Queria porque queria uma igual pra mim. Mas não encontrava. Custou, custou, até que entendi. As meias tradicionais eram como as daqui. Na perna delas, branquelas, é que ficavam clarinhas, beginhas...

Hoje,tanto lá como cá, pode-se escolher à vontade meias pra qualquer ocasião. De náilon, elastano, lã ou algodão. Para festas, jogar tênis, corridas, caminhadas, há sempre aquela mais adequada. Incluindo as de bolotinhas de borracha na sola, que tanto servem aos bebês como às alegres senhorinhas, nas horas de hidromalhação.

Beatriz Cruz