O amor e o poder


Essa semana eu descobri muito, mas muito atrasada, que a filha mais velha da modelo Heidi Klum é filha do Flavio Briatore, ex-chefão da Renault. Considerando que a criança já tem 5 anos, só eu pelo visto não sabia que aquela loura maravilhosa, que tem uma família linda com o cantor Seal, tem no seu currículo um relacionamento com aquele sujeito que chamou Nelsinho Piquet de bicha. E aí, por mais que eu tenda a acreditar no amor, por mais que eu resista a dizer que uma mulher só está com um cara por dinheiro, porque isso sempre soa como preconceito, não há outra explicação para que uma moça tão jovem e sensacional se encante por uma criatura tão desprovida de beleza e charme, mas tão provida de riquezas como o italiano em questão. Gente, pega o Flavio Briatore e bota ele para andar anonimamente ali no Largo do Machado que vocês vão ver se alguma mulher vai olhar para ele. E a julgar pelos últimos acontecimentos - o do episódio do acidente do Piquet filho -, o ex-dirigente da F-1 está longe de ser uma grande figura humana. Mas o fato é que Heidi deixou seguidoras e hoje Briatore, 59 anos de pura barriga e boca mole, está casado com a apresentadora de TV e igualmente linda Elisabetta Gregoraci, de 29 anos, que já está grávida.Por que estou desfiando todo esse veneno em cima dessas pessoas tão distantes? Acho que é porque isso me fez refletir. E também porque falar mal de celebridade internacional é mais tranquilo, já que elas não vão ficar sabendo nunca. Mas a questão a ser discutida é o talento dessa moças para fazer com que o dinheiro e o poder se sobreponham a qualquer exigência estética, ética, sentimental, sei lá. Não estou sendo moralista, não, muito pelo contrário. Não é que eu defenda o sexo só por amor, talvez o que eu defenda seja o sexo com bom gosto. Mas isso deve ser uma questão cultural, de hábito mesmo. Só para ficar nos exemplos italianos, vocês conseguem se imaginar tendo uma noite de prazer com o Silvio Berlusconi só porque ele é praticamente o dono da Itália? Dá para ter tesão no Berlusconi porque ele é podre de rico ou, como eu, você só consegue lembrar que ele é podre de tudo, literalmente?Claro que isso não é uma manifestação de preconceito contra a feiura. As pessoas são muito mais do que suas cascas. Elas têm atividades, história, têm charme, segredos de sedução. O problema é que algumas parecem só ter dinheiro mesmo. E para outras isso basta. Imaginem, sei lá, o Al Pacino. Ele não é exatamente bonito. Mas é o Al Pacino e o fato de ser muito, muito rico está lá no fim de sua lista de predicados. Dá para imaginar um romance desinteressado (economicamente falando) e muito interessante com ele, não dá? Ou, para citar um exemplo nacional, o Caetano Veloso, que também nunca foi um padrão de beleza, mas que eu, particularmente, acho lindo. É o conjunto da obra e aí não dá para dizer que qualquer uma que se aproxime dele ou de outros do gênero o faça por dinheiro. O próprio Seal, com quem Heidi Klum hoje é casada, tem aquelas cicatrizes um tanto assustadoras no rosto, mas o conjunto é todo ótimo.O fato é que cada uma é dona de sua cabeça e seu corpo e sabe o que vale fazer com eles em troca de uns passeios de iate, umas ótimas roupas, algumas boas joias e viagens pelo mundo. O que, convenhamos, não é pouca coisa. Só tenho a impressão de que, em algum momento, o resto de que se abriu mão vai fazer falta. Fora que ficar sendo exibida como troféu deve fazer muito bem para a autoestima no início, né? Depois, não sei, não. Talvez megamilionários não tragam felicidade. Mas talvez também não custe nada testar.