A inveja
A inveja (junto com a avareza) é - tanto para Tomás como para a sabedoria do pára-choque do irmão da estrada - um dos vícios capitais mais detestáveis. A inveja, in-vidia, invidentia, é não-ver, não querer ver o bem do outro.
As metáforas da inveja
A inveja é podridão
1. A propósito de Provérbios 14:30: "A inveja é a podridão dos ossos", comenta Gregório : "Pelo vício da inveja, desfazem-se aos olhos de Deus os bons atos das virtudes".
Roer-se de inveja.
2. A inveja é comparada à traça, que rói ocultamente as vestes, pois dilacera o amor e, por isso, desfaz a unidade.
3. Roído pela inveja
A inveja é tortuosa, como a cobra. A inveja é sombria e tenebrosa
A inveja é tortuosa, como a cobra. A inveja é sombria e tenebrosa
4. Distorcer é entortar o que era reto. Daí que por cobra tortuosa se entendam aquelas criaturas cuja beleza se obscureceu pelo pecado e distorceram sua retidão, principalmente o diabo, por quem a inveja entrou no mundo. De sua tenebrosidade fala Jó : "Dorme em sombras; esconde-se entre as canas".
O fedor da inveja
5. Mas para outros é na verdade odor da morte que leva à morte, isto é, da inveja e maldade que ocasionalmente os conduzem (os invejosos) à morte eterna...
O espinho da inveja
6. Outros, porém, espicaçados pelo espinho da inveja...
7. Movidos pelo espinho da inveja.
A inveja morde
A inveja morde
8. Alguns estavam mordidos de inveja.
A inveja é cega
A inveja é cega
9. Atingidos pela cegueira da inveja.
10. Porque estavam completamente dominados pela cegueira da inveja.
A inveja queima
11. Torturados de inveja, queimados de inveja.
12. A febre da inveja.
A inveja envenena
13. O veneno da inveja.
O arroto da inveja
14. O arroto da inveja.
A inveja avinagra
15. A inveja é representada pelo vinagre.
A inveja dói
16. Há certos pecados que são dores, como a acídia e a inveja.
Outros aspectos da inveja
17. Vejo, mas não invejo...
18. Não há nada mais vil do que a inveja.
19. Freqüentemente os soberbos julgam os outros superiores em muitas coisas,
sem no entanto deixarem de se considerar mais dignos delas, por causa dos bens em que os outros parecem superá-los, da própria soberba nasce um zelo de inveja.
20. (O ódio pode surgir também...) quando alguém por semelhança impede a fruição da realidade amada por alguém que a ama. E isto se dá em todas as coisas que não podem ser simultaneamente possuídas por vários, como é o caso das coisas materiais. Daí que quem ama o proveito ou o prazer de algo, impeça a fruição desse algo por outro que, tal como ele, quer se apropriar daquilo. Daí o ciúme, que não suporta participação no amado, e a inveja, que pensa que o bem do outro é obstáculo para seu próprio bem.
21. Há certos pecados que se cometem por tristeza, como a acídia e a inveja.
22. (Nos condenados do inferno) Agiganta-se o ódio e a inveja, porque preferem ser mais torturados com muitos do que menos torturados sozinhos.
23. Só a soberba e a inveja são pecados puramente espirituais, portanto do âmbito possível dos demônios.
24. Como a inveja se sente da glória de outrem enquanto ela diminui a glória desejada, apenas sentimos inveja daqueles a quem pretendemos igualar-nos ou a quem, em glória, nos preferimos; o que não se verifica quanto aos que estão de nós muito distantes. Com efeito, ninguém a não ser um louco, se empenha em se igualar ou superar em glória os que são muito maiores: não só o rei não inveja o plebeu; também o plebeu não inveja o rei. E, assim, um homem não inveja os que estão muito longe por lugar, tempo ou prestígio; mas os que estão perto - esses são os que incomodam - e aos quais ele quer se igualar ou superar.
25. Ninguém inveja o que é possuído comumente por muitos: ninguém inveja, por exemplo, que outro possa conhecer a verdade, o que é possível para todos, mas talvez a excelência desse conhecimento.
26. É freqüente que homens que exercem o mesmo ofício se comportem insidiosa e invejosamente entre si. É como diz o provérbio: "oleiro inveja oleiro" e não carpinteiro.
27. Como os soberbos freqüentemente julgam os outros superiores a si em muitas coisas (...) da própria soberba nasce a inveja
28. Pois diz Gregório: "Quando a podridão da inveja corrompe o coração já vencido, os próprios sinais exteriores indicam quão gravemente o desvario instiga o ânimo: o rosto empalidece, os olhos se abatem, a mente se inflama, os membros esfriam, a imaginação se enraivece e os dentes rangem".
29. Há pecados que se cometem não para ganhar algo, mas só para destruir, como é o caso do homicídio, da inveja e outros que tais
30. Da inveja nasce o ódio
"Ex invidia oritur odium. "
"Ex invidia oritur odium. "
31. A ira pode ser boa ou má; ao contrário da inveja, que basta nomeá-la, e já soa como algo mau.
32. A inveja, em geral, procede da soberba. Com efeito, a tristeza pelo bem alheio dá-se no homem porque aparece como obstáculo à própria excelência.
33. Os pusilânimes são propensos à inveja pois, como se diz no livro de Jó, a inveja mata os pequenos. E isto com razão, pois o medíocre acha que a prosperidade de outro impede a sua: o que é próprio de almas pequenas.
34. Fugir dos olhos do invejoso, evitar que seu olhar caia sobre nossas ações.
35. A inveja como espírito de competição.
36. Quem odeia, olha com olhos maus e invejosos a quem odeia
A avareza
37. Como o objeto da avareza é o dinheiro, que promete suficiência em todas as coisas necessárias ao homem, é facílimo propender para esse vício
38. (Paulo diz que) a avareza é idolatria por uma certa semelhança com a servidão, pois tanto o avaro como o idólatra servem mais a coisas criadas do
que ao criador.
39. A avareza torna o homem odioso para os outros.
40. A insídia de que o homem se vale para arrebatar bens aos outros (...) é própria sobretudo da avareza.
41. (Discutindo se a avareza é o maior dos pecados, Tomás diz que em termos absolutos não, mas...) De outro ponto de vista, avalia-se o grau do pecado por parte do bem que desordenadamente escraviza o desejo do homem. Ora, quanto menor o bem, tanto maior a monstruosidade do pecado: tanto mais torpe quanto inferior é o bem a que se sujeita. Ora, o bem das coisas exteriores (que o dinheiro pode comprar) é o ínfimo entre os bens humanos: é menor que os bens do corpo, que são menores que os bens da alma, que são menores que o bem divino. Daí que a avareza seja de certo modo a maior deformidade.
42. Daí que o Eclesiástico diga que o avarento vende a alma, a vida, porque a expõe a perigos por amor ao dinheiro. E acrescenta que ele se despoja da própria vida, isto é despreza-a, para ganhar dinheiro.
43. A cobiça de qualquer bem temporal é o veneno da caridade; por ela o homem despreza o bem divino.
44. A avareza é o pecado dos velhos. A avareza é incurável e por isso diz Aristóteles que velhice e insegurança fazem o homem avaro.
45. A avareza é irremediável por conta do defeito humano, no qual sempre cai a natureza humana: quanto mais defeitos uma pesoa tem, tanto mais necessita do apoio das coisas exteriores e, portanto, mais se descamba para a avareza.
46. (Pecado espiritual é o que se realiza com prazer da alma e não físico). A avareza é pecado espiritual, porque o prazer do avaro é o prazer espiritual de se considerar possuidor de riquezas.
47. (...) Mas por causa de seu objeto é intermédio entre os pecados puramente espirituais e os puramente carnais...
48. A avareza é vício capital porque versa sobre um bem principal entre os bens sensíveis: o dinheiro.
49. Da avareza procede uma dureza contrária à misericórdia, que impede o coração de se abrandar e ter compaixão para com suas riquezas socorrer os miseráveis
50. Os vícios enumerados por Aristóteles são mais espécies do que filhas da avareza. O defeito do avarento refere-se ao dar. Quem dá pouco é parco; quem não dá nada é agarrado (tenax); se só dá com grande dificuldade é "vendedor de cominho", que tem em grande conta coisas de pouco valor.
51. O avarento não é útil para os outros nem para si mesmo, pois não se atreve a gastar nem sequer consigo mesmo.
52. E assim se diz que a avareza é raiz de todos os males, não porque todos os males sempre nasçam dela, mas porque não há nenhum que não possa, por vezes, dela nascer.
53. A vaidade e a avareza geram-se mutuamente.
54. Com avareza, isto é, com apetite ardente, contínuo e insaciável.
55. Avaro, etimologicamente, é ávido de dinheiro (avidus aeris, "de cobre") e, em grego, avareza é phylargyria, amor à prata.
56. Há muitos pobres quanto ao dinheiro que são avaríssimos quanto ao coração.
57. Agir de modo avarento, isto é, tomando o que é de outro.
58. (O homem da mão seca - "mão fechada" - no evangelho) representa o avaro que, tendo para dar, só quer arrebatar.
59. Cristo não disse não ter riquezas mas não servir as riquezas.
60. Como diz o livro de Provérbios: o avarento odeia o avarento.
Trechos do livro Tomás de Aquino – Sobre o Ensino (De Magistro) & Os Sete Pecados Capitais, São Paulo, Martins Fontes, 2001