Saudades eternas... "Os olhos do meu pai"

Quando era pequena, amava sentar no banco de trás do carro do meu pai e observar os olhos dele pelo retrovisor. Ah, o orgulho que sentia por ele ser capaz de inspecionar o mundo com a mísera ajuda daquele espelhinho... E como me espantava que conseguisse decidir, em segundos, sobre qual pedal pisar, qual marcha engatar, para qual lado virar!
Meu perfeito herói, de quem, dia desses, senti brutal saudade, ao encarar no retrovisor meus próprios olhos – tão idênticos ao dele! O herói... Esse já se foi há tempos.
É que, à medida que passei a guiar meus próprios caminhos, descobri que estar ao volante não significa necessariamente saber por onde ir. Entendi que, por mais que saiba sobre qual pedal pisar, sou falível e meu pai também o era!
A princípio, tal constatação decepciona. Mas a grande sacada é converter a inicial frustração em admiração ainda maior. Porque
ser herói é fácil. Difícil é ser humano e encarar os vilões da vida e de nós mesmos sem superpoderes. E ainda com filhos a observar pelo retrovisor!